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Igualdade? Não, Obrigado!

Tempo de Leitura: 9 minutos

Desde criança venho ouvindo muito uma certa palavra. Palavra esta que por sinal nunca me fez muito sentido. Ao observar o mundo ao meu redor, não encontrava os sentidos que ela deveria ter. Observo desde os menores seres vivos existentes, as árvores, os grandes animais e até mesmo os irmãos gêmeos univitelinos (que possuem o mesmo código genético), e vejo que sempre em algum ponto eles têm algo diferente. A palavra a que me refiro é igualdade.

Isto posto, percebo que, por diversas vezes, costumamos a incentivar outras pessoas a buscarem o diferente, conhecerem lugares, pessoas diferentes, aprender a falar línguas novas — e veja lá, novamente, diferentes —, buscamos novas amizades, que sempre são diferentes entre si, comidas de diversos lugares que, veja só… são diferentes. Fico então me questionando, mais uma vez, o que de fato seria igualdade e por que tantas pessoas usam esta palavra quase como um mantra, mesmo se tratando de um conceito tão pouco vivido e observado na natureza que nos cerca.

A BIOLOGIA

Estudei na biologia sobre a evolução dos seres vivos e como isso transformou o mundo até ele ser da forma que o conhecemos hoje. O simples fato da evolução já mostra a ideia de que se não houvesse mudanças, tudo ficaria estagnado e provavelmente nem a vida existiria.

Mutações genéticas ao longo de milênios foram essenciais para o desenvolvimento dos seres vivos, “adaptando-se” biologicamente, conforme o ambiente. Por exemplo, se o ambiente fosse muito quente, aqueles seres vivos com pouca capacidade de resfriarem seus corpos, provavelmente, não sobreviveriam por muitas gerações, e, consequentemente, não poderiam passar à frente seus genes. O resultado disso são novas gerações de seres vivos capazes de aguentar o calor.

 Atualmente, na humanidade, é possível perceber esses resquícios evolutivos. Por exemplo, pessoas que vivem em regiões com maior incidência de luz solar, como alguns povos africanos, possuem uma quantidade muito maior de melanina na pele. A melanina é uma proteína que absorve radiação ultravioleta, protegendo os outros tecidos da luz solar. Essas pessoas, portanto, possuem uma maior proteção contra os raios solares e, consequentemente, os riscos de câncer de pele são menores que as pessoas mais claras – ou seja, com menos melanina na pele.

Pessoas que vivem em lugares com muita neve, como o leste asiático, tendem a ter o olho mais puxado, característico dos povos orientais, por conta da intensa claridade refletida pela neve. A forma que a evolução “encontrou” para resolver este problema foi diminuir a fenda pela qual a luz passa pelo olho, de forma a não prejudicar a retina.

Indivíduos do sexo masculino e feminino têm várias diferenças, tanto genéticas como fisiológicas. Essas diferenças são chamadas de dimorfismo sexual. Os pavões, por exemplo, são excelentes exemplos disso. Enquanto a fêmea é menor e com menos cores para não chamar atenção dos predadores, os machos são maiores e bem coloridos. Os que exibem padrões mais atraentes são os que possuem os melhores genes, e as fêmeas os escolhem para procriar.

Na espécie humana, essas diferenças também são visíveis. Mulheres geralmente têm os seios mais acentuados, uma estratégia evolutiva para chamar a atenção de homens e atraí-los para a procriação, uma vez que seios fartos seriam um sinal de que ela é capaz de prover o sustento da prole. O metabolismo dos homens tende a ser mais acelerado que o das mulheres, consumindo mais nutrientes. A maior quantidade de massa muscular nos homens é explicada por isso, e provavelmente é assim para que estes sejam mais ágeis e fortes para buscar alimento e defender sua família; e o armazenamento de gordura nos seios, coxas e nádegas pelas mulheres ocorre para que ela tenha maior reserva energética durante a gestação.

Essas diferenças morfológicas e fisiológicas podem ser explicadas pelas diferenças nas produções de certos hormônios, os chamados esteroides, produzidos pelas glândulas nos órgãos sexuais. Os homens possuem uma quantidade muito maior de testosterona – produzida principalmente nos testículos -, a responsável por estas características mais robustas, como maior quantidade de fibras musculares, voz mais grossa, maior estatura média, mais distribuição de pelos ao longo do corpo etc. Enquanto as mulheres possuem maior produção de estrogênio, pelos ovários, que lhes confere características como menor estatura, maior acúmulo de gordura, menos fibras musculares, quadril mais largo, voz mais fina, menos pelos no corpo, feições mais curvas etc.

Além de todos esses diferenciais, há ainda aquelas características que são únicas em cada indivíduo, como a impressão digital. Esse termo já é tido como sinônimo de “identificador”, uma vez que cada ser humano possui a sua. Trata-se da impressão resultante do ato de pressionar o útero com as mãos que deixa uma marca exclusiva nos dedos. Por isso, nem mesmo gêmeos univitelinos – que são clones idênticos – possuem a mesma impressão digital. Há, também, a arcada dentária, muito usada para a identificação de cadáveres queimados, quando o DNA está inacessível ou danificado.

Depois de observar todas essas diferenças biológicas entre os indivíduos de uma mesma espécie, pude perceber melhor o motivo de haver tantas diferenças entre indivíduos e suas respectivas “classificações” (renda, sexo, localização, posição social, inteligência etc.).

AS VOCAÇÕES

Se eu te perguntasse quem teria mais chance de ser bem-sucedido em um torneio de basquete: um indivíduo de 2,10m de altura ou um de 1,63m, você provavelmente escolheria o primeiro. Claro, o objetivo do basquete é acertar a bola na cesta, então quanto mais próximo você estiver dela, menos esforço vai precisar fazer, menor precisará ser sua precisão a uma curta distância, menos passos você precisa dar para alcançar o outro lado da quadra etc. Isso não é regra, obviamente, mas é um padrão.

Dá para perceber, olhando desse ponto de vista, como as diferenças biológicas entre dois indivíduos de uma mesma espécie (espécie humana) altera a forma com que eles agem no mundo. Podemos dizer, de certa forma, que o indivíduo mais alto foi mais “privilegiado” que o mais baixo, no caso do basquete. Isso porque a altura, nesse exemplo, é um parâmetro que pode conferir vantagem ou desvantagem, dependendo do seu valor. 

Entretanto, ter um corpo maior pode ser desvantajoso em relação a alguém que tem um corpo menor em certos casos. Impulsos nervosos demoram mais tempo para percorrer um braço longo, por exemplo, o que pode diminuir significativamente o tempo de reflexo de alguém com estatura elevada. Pessoas com menor estatura tendem a ter mais agilidade, o que é um benefício em esportes como ginástica artística, por exemplo. Nesse caso, uma pessoa com 2,10m de altura não teria o mesmo “privilégio” que uma de 1,63m.

Olhando para além do mundo esportivo, ainda é possível notar como a forma de pensar das pessoas é afetada por certas particularidades. Por exemplo, indivíduos que possuem o córtex pré-frontal (porção frontal do cérebro responsável pela criatividade, pensamento abstrato, linguagem, ligação emocional, julgamento social etc.) naturalmente mais desenvolvido possuem muito mais afinidade com artes, linguagem, comunicação interpessoal etc., do que com lógica e matemática, por exemplo.

É claro que essa vocação não é definida apenas geneticamente, mas também pela grande influência de estímulos aos quais a criança se expõe ao longo de seu desenvolvimento. Isso ocorre devido à capacidade de neuroplasticidade do encéfalo; isto é, capacidade de receber estímulos e se adaptar conforme as novas experiências. É por isso que crianças que começam a se interessar por matemática bem cedo e mantém uma rotina de exercícios e aprendizado geralmente têm maior sucesso nessa área posteriormente.

O MERCADO

Com base em tudo o que se pode observar na biologia, é possível ver o reflexo dessas diferenças no mercado.  Por exemplo, quando percebemos que os indivíduos são diferentes em todos os aspectos, tanto físico quanto mental, fica fácil entender que as possibilidades, vocações, interesses e vontades também serão diferentes.

Algumas pessoas têm mais interesse por matemática, outras se dão melhor com música, outras gostam mais de medicina ou história, algumas pessoas são melhores em se relacionar com os outros, e por aí vai. 

Da mesma forma, o interesse de outras pessoas por estas áreas também é diferente de individuo para individuo – ou seja, a demanda é diferente. Por exemplo, o Neymar ganha um salário muito maior que um professor de uma rede privada. Essa diferença não tem a ver com injustiça, mas sim com a diferença da preferência desses indivíduos no mercado. 

O trabalho exercido pelo Neymar possui maior valor aos olhos dos empresários que investem nele porque a renda que ele consegue gerar é bem maior – o que dá bastante lucro. Já o trabalho do professor, ainda que considerado, em grande parte das vezes, como a profissão mais importante, não gera um retorno financeiro tão grande a ponto de ser comparável com o do jogador.

Talvez você pense que isso é errado porque um professor é mais importante que o Neymar, e por isso o segundo não deveria ganhar mais que o primeiro. Moralmente esse julgamento pode até fazer sentido, mas não se trata de uma questão de certo e errado, uma vez que, além de se tratar de uma observação puramente subjetiva, ambos os trabalhos são exercidos de forma voluntária. Dizer que é errado a diferença salarial entre essas pessoas é equivalente a dizer que é errado alguém gostar mais de laranja do que de maçã; ou seja, não faz sentido, já que é apenas um julgamento subjetivo.

Se o indivíduo, em um dado momento, acha mais valoroso assistir a um jogo em que o Neymar joga do que assistir a uma aula de português, por exemplo, então o Neymar vale mais que o professor, naquele momento. Antes de uma prova, porém, é provável que o trabalho do professor “valha” muito mais para o aluno do que assistir ao jogo.

Isto posto, questiono-me: se o mercado é formado por indivíduos e indivíduos são diferentes em todos os aspectos, até nas preferências e valorações, então como se pode falar a respeito de igualdade econômica? Quem define quanto cada um deve ganhar? Como saber quem deve ganhar mais e quem deve ganhar menos? Deve-se ter em mente que nem todo mundo tem a intenção de ser um bilionário. Apesar de ser uma condição financeira agradável, não se pode dizer que todos vão agir de maneira a alcançar esse objetivo. 

As pessoas têm pensamentos diferentes, finalidades diferentes, sonhos, interesses, tudo diferente. Não fosse tal diferença, não haveria por que selecionar amigos, companheiros ou até mesmo quem entra na sua casa, uma vez que todos já saberiam das intenções dos outros.

A ORDEM NATURAL

Baseada originalmente na luta de classes, a ideia de igualdade proposta pela esquerda há séculos continua sendo uma pauta atual, porém, não se restringindo apenas à igualdade de classes, mas englobando conceitos como igualdade racial, de gênero, sexual e social. Esse discurso torna-se bem evidente quando se observa o surgimento de diversos grupos – ditos defensores da minoria -, como militância LGBT, movimento negro, feminismo e até mesmo os próprios socialistas, clamando pela igualdade, que seria um direito e dever e todos para que uma sociedade justa pudesse ser construída. 

Ocorre que devido ao fato de cada indivíduo ser completamente diferente do outro, propor igualdade em forma de leis positivadas baseando-se em características como gênero, etnia, renda ou qualquer outro critério é completamente arbitrário e antinatural. Podemos ir além e dizer que toda tentativa de definir um tipo de igualdade terá efeitos contrários. Pense comigo, se as características de determinado grupo levaram ele a prosperar, o que significa exatamente remover essa diferença? Significa eliminar um elemento que nos levou até esse mesmo estado. Friedrich Hayek era um homem sábio e sobre o assunto ele elucidou:

As reivindicações do socialismo não são conclusões morais derivadas das tradições que constituíram a ordem ampliada e tornaram a civilização possível. Antes, elas se empenham em derrubar essas tradições e trocá-las por um sistema moral planejado racionalmente, cuja atração depende do apelo instintivo das consequências que promete. Elas supõem que, uma vez que as pessoas foram capazes de gerar um sistema de regras coordenando seus esforços, elas devem ser capazes também de elaborar um sistema ainda melhor e mais gratificante. Mas se a espécie humana deve sua existência mesma a uma forma específica de conduta baseada em regras de eficácia comprovada, ela simplesmente não tem a opção de escolher outra apenas em prol da agradabilidade aparente dos seus efeitos imediatos visíveis. A disputa entre a ordem do mercado e o socialismo não é nada menos que uma questão de sobrevivência. Seguir a moralidade socialista destruiria grande parte da humanidade presente e empobreceria o resto.

 HAYEK, F. A. (2017).

A arrogância fatal nos leva a tentar constantemente operar mudanças que sejam melhores arranjos do que o cenário natural que se prosta para nós. O arrogante nesse sentido pode ser levado para a floresta e apontado ao fato de que é justamente a riqueza de diferenças que nos demonstra a beleza da floresta, algo muito diverso de um campo de reflorestamento cheio de eucaliptos.

Nesse momento, um observador atento poderá dizer que o problema central é o fato de que a desigualdade econômica não é como um jogo de basquete, onde a pessoa pode simplesmente desistir do esporte caso não seja minimamente competitiva. Nós precisamos de fato nos mantermos minimamente competitivos no “jogo do mercado”. E embora isso seja verdade, afinal, de fato, somos agentes econômicos concorrenciais, é justamente a observância desses fenômenos naturais que poderá nos levar a vencer o jogo do mercado.

Isso se dá porque o status natural do ser humano é a pobreza. Nossos antepassados pré-históricos viviam a sua vida inteira em condições muito menos confortáveis do que nós. Essa ideia de que o capitalismo causa pobreza é falsa e, na verdade, toda a riqueza do mundo foi causada pelo capitalismo. Até mesmo fenômenos como a alienação marxista, onde os produtos passam a ser objeto de desejo e levam o ser humano a perder outras coisas de vista, são na verdade uma má observação do fenômeno da riqueza. Quando você sente fome intensa, o único parâmetro que alguém pode ter é como deixar de sentir essa fome, a maior alienação possível.

 Seja lá qual seja o lado pelo qual você olhe, aonde tivemos ordem natural, tivemos riqueza, prosperidade e paz e aonde tentamos manipular essa ordem, tivemos pobreza, escassez e guerra.  Ao invés de suprimir as diferenças, respeitemos elas e deixemos a ordem espontânea florescer dessas.

BIBLIOGRAFIA

HAYEK, F. A. (2017). Os erros fatais do socialismo: por que a teoria não funciona na prática (PDF). Barueri: Faro Editorial. 237 páginas. Consultado em 25 de agosto de 2017

Autores:

Nicholas “Zap” Ferreira
Renan “Shiroan”
Jose Augusto “Malboro”
Daniel Miorim de Morais

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