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As Críticas da Esquerda ao Agorismo

Tempo de Leitura: 4 minutos

Agora que já sabemos, por meio dos artigos anteriores desta série, quem é Samuel Konkin III, podemos dizer que o Agorismo surgiu de uma aproximação dos libertários considerados “de direita”, representados principalmente por Rothbard e as alianças com os conservadores, com o libertários e anarquistas considerados “de esquerda”, grupos com quem Konkin sempre manteve certa proximidade.

Entretanto, apesar de terem aceitado de certa forma o Agorismo, eles possuem várias críticas ao que foi proposto por Konkin. É claro que, assim como a direita libertária, a esquerda libertária não é um grupo homogêneo. Muitos, inclusive, dizem que essa distinção entre esquerda e direita dentro do libertarianismo não faz sentido, como argumenta o Stephan Kinsella.

De qualquer forma, vamos utilizar um conceito que não é perfeitamente claro, mas que nos ajuda a entender do que estamos falando. Assim, fazem parte da New Left todos aqueles que são “anarquistas e de alguma forma acreditam no livre mercado”. Mas aí você me pergunta: se eles são anarquistas e acreditam em laissez-faire, em livre mercado, não seriam todos eles anarcocapitalistas? Não. Porque aqui tem uma grande separação dentro da esquerda libertária.

Dentro desse grupo, que como comentamos, é bem heterogêneo, existem aqueles que acreditam em propriedade privada e os que não acreditam em propriedade privada. E é exatamente aqui que vem uma das principais críticas da New Left contra os Agoristas: o respeito à propriedade privada. Apesar de não serem como muitos marxistas que consideram o dinheiro como uma forma de opressão, muitos autores da esquerda libertária aceitam o dinheiro como meio de troca, mas não acreditam em propriedade privada.

Para eles, e essa é a principal crítica deles ao Agorismo, a propriedade privada não é algo que existe nas primeiras formas de organização, não sendo algo que surge naturalmente. Para eles, a propriedade privada, incluindo a autopropriedade, só existe por causa do estado, sendo, portanto, na visão deles, uma forma de estatismo.

Essa é uma discussão complexa, em que grande parte dos autores argumenta que a propriedade privada dos meios de produção só existiu após o surgimento do estado. Entretanto, e esse é um detalhe frequentemente desconsiderado, poucos negam que a propriedade privada de bens de consumo sempre esteve presente, desde as primeiras organizações tribais.

Só isso já prova que a propriedade privada, pelo menos a de bens de consumo, não depende do estado para existir. O uso dos bens de capital de forma comunal era bem frequente, mas isso não quer dizer que a propriedade privada não existia para eles. Não é porque todos utilizavam que significa que não eram de propriedade de alguém. Essa pessoa poderia permitir que todos utilizassem, mas alguém tinha a palavra final sobre quem poderia utilizar determinado bem em determinado momento.

Outra confusão frequente é a diferença entre propriedade coletiva e o ambiente, isto é, tudo aquilo que ainda não foi apropriado. Não é porque uma região é utilizada para coleta ou caça que ela passa necessariamente a ser propriedade de alguém ou, no caso, de uma comunidade. Existe sempre a possibilidade, frequentemente ignorada pelos antropólogos, de que aquilo ainda não foi apropriado e faz parte do ambiente.

Porém, comumente nos estudos o que não é apropriado é chamado de “bem comum” ou “bem público”, misturando os conceitos. E como fazer essa distinção?Como fazer para saber se algo foi apropriado ou se é apenas parte do ambiente? Existem 3 fatores que precisam ser cumpridos:

Primeiro, deve haver uma necessidade ou desejo humano a ser atendido. Segundo, deve existir uma conexão causal entre este item escasso e um ser humano. E, por fim, o mais importante neste contexto, um elemento do mundo externo deve estar sob controle humano de forma que possa ser empregado de forma ativa ou deliberada para resolver uma necessidade ou desejo.

Portanto, no caso de um ser humano que coleta frutas em árvores, claramente ele está apropriando o fruto, mas não a árvore. Diferente de alguém que planta árvores para produzir alimentos ou rega e poda um arbusto para produzir frutos. No caso de quem planta, ele está utilizando a árvore como um meio para resolver uma necessidade de seres humanos, no caso se alimentar.

Além de tudo isso, as teorias antropológicas da propriedade privada desconsideram a teoria da propriedade privada obtida de forma a priori, como a sugerida por Hans-Hermann Hoppe. No geral ignoram por completo a teoria Hoppeana, ou a desacreditam epistemologicamente, negando a possibilidade de conhecimento a priori. Este é um assunto complexo que não vamos entrar aqui. Para quem tiver interesse, discutimos esses dois pontos a fundo no curso Introdução à Ética Libertária, também disponível no Clube da Liberdade.

Outro ponto que a New Left se distingue do Agorismo é em relação às hierarquias. Essa discussão é similar à crítica de Rothbard em relação à organização, que como falamos no artigo anterior, não é justa uma vez que isso não está presente em nenhum escrito agorista. Entretanto, foi talvez essa proximidade do Agorismo à esquerda libertária que tenha levado Rothbard a fazer essa crítica. Ou então, os aderentes ao Agorismo tenham absorvido algo disso devido à proximidade com a esquerda. De qualquer forma, isso é irrelevante para a discussão.

O importante é entender que grande parte da New Left é contra a existência de hierarquias rígidas, seja na política, seja nas empresas. Talvez parte do motivo de serem contra hierarquias nas empresas, seja por não entenderem claramente o conceito de propriedade privada, como vimos há pouco. De qualquer forma, os agoristas são contra o estado não porque ele é uma forma de hierarquia, mas sim porque ele é uma forma de coerção. Já muitos da New Left enxergam qualquer tipo de hierarquia como uma forma de opressão, não vendo diferença entre estado e os gerentes e chefes de uma hierarquia em uma empresa privada. Como muitos utilizam o conceito marxista e ricardiana de valor-trabalho, são incapazes de perceber essa diferença. Dessa forma, não concordam com os agoristas e, muitas vezes, são contra considerar agoristas como parte da esquerda libertária.

Pessoalmente, considero que o mais importante para um libertário e, portanto, para uma agorista, é o respeito à propriedade privada. É o valor mais importante e não devem existir exceções a fim de se evitar qualquer tipo de positivismo. E considerando que para o Agorismo ser condizente com os valores é ainda mais importante, a discussão entre esquerda e direita entre libertários é irrelevante e diverge da verdadeira discussão: Se determinada pessoa respeita ou não a propriedade privada.

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REFERÊNCIAS

KONKIN, Samuel. O Manifesto do Novo Libertário. Artigo publicado pela Libertyzine. 16 de março de 2017.

Agorismo: Liberdade Na Prática. Roteiro. Curso da Universidade Libertária. Sessão 1: Introdução; Sessão 2: O Que É O Agorismo?

Pesquisa: “Quem foi Samuel Edward Konkin III?“, em 14 de janeiro de 2021. Acesso em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Samuel_Edward_Konkin_III.

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